quarta-feira, 25 de junho de 2008

Teatro Nô

Em 1982, quando estive pela primeira vez no Japão, assisti a uma apresentação de teatro Nô. A impressão sobre meu espírito foi fortíssima. O espetáculo que combina canto, pantomima, música e poesia, chegou até mim quase insólito diante das categorias estéticas a que estava acostumada. O chamado de Nō, Nô, Nou ou Noh é uma forma clássica de teatro profissional japonês e é uma das formas mais importantes do drama musical clássico japonês, executado desde o século XIV.

Apresentação de teatro Nô

"O teatro Nô evoluiu de outras formas teatrais, aristocráticas e populares, incluindo o Dengaku, Shirabyoshi e Gagaku. Suas raízes podem ser encontradas no Nuo - uma forma de teatro da China. Interpretado apenas por atores, que passam sua arte pela tradição familiar, as atuais companhias de nô são localizadas em Tokyo, Osaka e Kyoto.
Um de seus mais importantes dramaturgos foi Zeami Motokiyo. Por seu lado, deu origem a outras formas dramáticas, como o Kabuki.

O Nô é caracterizado pelo seu estilo lento, de postura ereta, rígida, de movimentos sutis, bem como pelo uso de máscaras típicas. Possui em Zeami Motokiyo (1363-1443) o codificador maior dessa arte. Com um repertório de aproximadamente 250 peças, o universo nô é habitado por deuses, guerreiros e mulheres enlouquecidas, às voltas com os mistérios do espírito. Com sete séculos de história, o gênero conserva uma estética cênica rigorosa, que busca o máximo de significação com o mínimo de expressão. O foco da narrativa se encontra no protagonista (shite), o único que porta a máscara. Este é geralmente um espírito errante que exprime, de forma lírica, a nostalgia dos tempos passados. O coadjuvante (waki), geralmente um monge, não interfere no curso da ação, apenas é revelador da essência do shite. Um coro e quatro instrumentos auxiliam na condução da trama, que se soluciona através da dança. Esse coro, vale destacar, possui uma função dramática decisiva, conduzindo a narrativa.



Resultante da combinação de canto, dança, declamação, instrumentos e indumentária, o NÔ é um espetáculo de máscaras por excelência. São basicamente três os tipos de máscaras, dos quais se originaram outros tantos: máscaras de divindades sobrenaturais, de anciãos e de mulheres. Seu apelo é primitivo, abrupto, forte e ao mesmo tempo sutil e lírico. Estas máscaras têm o poder de estabelecer contato entre homens e deuses. Na verdade, esta peça é bem mais que um figurino, é uma parceira do ator, que lhe confere forças ocultas, mágicas. Vestir a máscara é um ritual em si. O ator, já com a roupa do personagem, observa a máscara que logo será seu rosto. Quando a veste, o artista passa a ser o personagem, pois colocar a máscara significa injetar nela corpo e alma, com os quais ela passa a viver. Nestas máscaras, o ator tem a visão limitada por estreitas aberturas e só consegue ver o chão através das fossas nasais existentes no objeto, orientando-se espacialmente através dos pinheiros e pilares do palco.

As mais antigas, criadas em Muromati, eram verdadeiras obras-primas; esculpidas em madeira, recebiam a pintura de rostos de jovens e mulheres de expressão neutra, enriquecidas por recursos sutis. Um deles era a diferença entre os dois lados do rosto_ quando o protagonista sofria um conflito, o público via a face direita entristecida; assim que este era resolvido, a face esquerda, alegre, era mostrada aos espectadores. Se o ator olhasse para baixo, os lábios da máscara pareciam cerrados, indicando melancolia; olhando para cima, os lábios ficavam entreabertos, apresentando um sorriso. Os olhos das máscaras femininas tinham pupilas quadradas, dando ar de doçura. Enfim, são detalhes que propiciam a gradação das expressões. O fabrico das máscaras requer grande habilidade e, hoje, apesar de haver muitos aprendizes, há pouquíssimos escultores que produzem para os grupos profissionais. Mesmo com tanta riqueza, a arte NÔ por pouco não foi extinta, já que ela esteve por muito tempo associada ao xogunato. Grupos isolados no Brasil ainda mantêm a tradição do Teatro Nô e suas máscaras.
Uma das peças mais famosas do repertório nô, é "Hagoromo - O Manto de Plumas", que tem inclusive uma "transcriação" para o português, feita pelo escritor Haroldo de Campos.”
Essas informações foram captadas na Japan Foundation, Wikipédia e Lugares do Mundo.