Aconteceu uma coisa muito curiosa em Sergipe. Postei aqui no blog, no dia 24/10, uma afirmação do jornalista, crítico literário, filólogo, historiador, pintor, tradutor e membro da Academia Brasileira de Letras, o sergipano João Ribeiro (1860-1934), que coloquei em questão, sobre a palavra "Xará". Pois é, estava eu na Feira do Livro, quando esbarrei com a "sala do silêncio", que era o lugar onde João Ribeiro trabalhava. Fiquei parada um tempo enorme admirando-a. Reproduzo aqui o emocionado texto "9 mil dias com João Ribeiro" escrito por seu filho Joaquim Ribeiro.
Havia na casa antiga de Santa Tereza à beira da rua do Oriente, onde morávamos, uma sala algo quieta e misteriosa. Era a sala do silêncio. Meu pai quedava-se, aí, diante de uma mesa, em atitude hierática, rodeado de livros, escrevendo e como que esquecido de tudo.
As estantes escuras, riscadas de in-fólios davam um aspecto sombrio ao ambiente. Eu chegava, muita vez, na porta, olhava-o e sentia um temor inexplicável. Não gostava da biblioteca. Não adivinhava ainda que naqueles livros, aparentemente inexpressivos, palpitavam idéias.
Eu ia pedir um tostão para comprar bala, perdia a voz e saía escabriado. Havia qualquer coisa de religioso no silêncio, na atitude de meu pai, na tranqüilidade daquela sala indiferente. Se daí me veio a veneração, só comecei a admirá-lo quando descobri nele o prestidigitador das cores.
Joaquim Ribeiro