sábado, 6 de dezembro de 2008

Horta caseira


Sou adepta da Agricultura Natural e ontem assisti a uma excelente palestra sobre horta caseira seguida de uma aula prática de como fazê-la. É bem simples e descomplicado, como eu gosto. Em um recipiente, no meu caso uma espécie de cantoneira de plástico com pequenos furos na base (foto acima), coloca-se uma camada de pedrinhas (espécie de cascalho) e, sobre ela, uma camada de capim seco. Sobre a camada de capim, coloca-se terra vegetal (que é vendida em casas de plantas e não tem adubos químicos) e vai-se preenchendo, sem comprimi-la, para que fique soltinha, até faltar aproximadamente um centímetro da borda. Feito isso, enfiamos dois dedos, formando uma pequena cavidade, onde será plantada a muda. No meu caso, de rúcula e salsa. Por último, cobre-se com uma camada de capim seco e está pronto. É necessário que fique num lugar da casa onde possa apanhar sol durante algum tempo e, quando necessário, molhar. A forma de saber se está na hora de molhar é verificar, tocando levemente os dedos na terra, se perdeu a umidade. Ela tem de estar sempre fofa e úmida.

Há um prédio em São Paulo cujo telhado está sendo utilizado pelos moradores como horta caseira. Fizeram canteiros em cantoneiras de cimento e lá cultivam as hortaliças para os condôminos. Moro em apartamento e minha hortinha caseira ficará na área de serviço. Minha amiga Cristina Biazetto reside em Porto Alegre, numa casa, e fez canteiros externos, onde tem sua horta caseira. Em agosto, quando fui para Charqueadas participar de uma feira de cultura, ganhei uma muda de sálvia. Deixei-a com a Cris, que a plantou na horta dela. Aliás, na casa da Cris há os maiores limões-galegos que já vi na minha vida: enormes e lindos. Ela me contou que tinha dado praga no pé de limão e ela, que é adepta da agricultura natural e, portanto, jamais utilizaria qualquer "antipraga" químico, só viu uma solução: arregaçar as mangas e lavar cada folha do limoeiro, tirando com as mãos as pragas. O resultado não tardou e o limoeiro respondeu com todo o esplendor que pude constatar.

Minha relação com a terra sempre foi muito forte. Em 1986, escrevi uma peça teatral infantil, Viva o Reino da Terra, ganhadora do Prêmio "Alice da Silva Lima" de Teatro Infantil, baseada nesses princípios. Ano passado, tive a oportunidade de visitar em Angola, na província de Bom Jesus, um pólo de Agricultura Natural criado num terreno seco e difícil. Lá, pude saborear alimentos naturais deliciosos advindos desse solo, o que seria, à primeira vista, impossível. Alías, há em Luanda um movimento forte de difusão do hábito da horta caseira. O texto e o vídeo abaixo são uma modesta contribuição para divulgação desses princípios.

Princípio da Agricultura Natural

O princípio da agricultura natural consiste em fazer com que o solo manifeste a sua grande força.

1-Não usamos esterco ou fertilizantes químicos, mas exclusivamente composto vegetal, razão pela qual damos o nome de agricultura natural ao nosso método. De fato, o material desse composto - folhas e ervas secas - forma-se naturalmente. Ao contrário, quer os fertilizantes químicos, quer o estrume de origem humana ou animal, como o de cavalo ou galinha, a farinha de peixe e as cinzas vegetais, por exemplo, que não caem do céu nem tão pouco brotam do seio da terra: são levados ao solo pela ação do homem. Escusado notar que se trata duma prática antinatural.

2-Não há uma única existência na Criação que não seja bafejada pela Natureza. Todas as coisas geram-se e são criadas mercê da tríade elemental fogo, água e terra. Numa linguagem científica, referimo-nos ao oxigénio do fogo, o hidrogénio da água e o nitrogénio da terra, imprescindíveis para qualquer tipo de cultura agrícola.

3-Uma vez que o homem ignorou os princípios da Natureza, recorrendo única e exclusivamente aos adubos artificiais, somos obrigados a admitir ser óbvio que ele padeça com a falta de alimentos. É a paga, digamos, pela sua cegueira para com as leis naturais. Some-se a ela o papel agravante exercido por certas teorias científicas, para termos a atual época de crise alimentar. Dessa ótica, a agricultura contemporânea constitui não um avanço, mas um retrocesso.

4-O método de cultivo natural que advogo tem por fundamento o princípio acima. Dependendo da sua prática, a exaustão e depauperamento de que é vítima o agricultor, devido à atual carência alimentar, também se solucionarão sem dificuldade.Como mencionei há pouco, a tríade elemental fogo, água e terra é a força motriz para o crescimento das culturas. Assim, é infalível a obtenção de resultados jamais vistos ao se assegurar uma boa insolação, o fornecimento suficiente de água e o cultivo numa terra pura. Um dia - não sei precisar quando - o homem fez um tremendo disparate: usou adubos. É que ele era completamente ignorante da natureza da terra. (Mokiti Okada, 5 de Maio de 1953)