Acabei de ler o belíssimo Os da minha rua, do Ondjaki. Curiosamente, parti para a leitura do livro, meio inconscientemente, tentando rever a Luanda onde estive ano retrasado, por seu olhar, tal como aconteceu quando assisti ao seu belo Oxalá cresçam pitangas e fiquei impressionada com o fato de que algumas imagens do filme eram as mesmas que eu havia fotografado em percepção semelhante. Comentei esse fato com ele, após a apresentação do filme, e também o de que pretendia enviar livros para Luanda para contribuir para a criação de uma biblioteca no Futungo. Ele se mostrou um pouco apreensivo em relação ao possível extravio dos livros. Não deu outra. Acabei sendo indenizada pelos Correios, mas não desisti ainda.
Acho que essa expectativa em relação à identidade do olhar sobre Luanda, em que até então eu acreditara, foi o meu primeiro movimento emocional para o texto. Fui derrubada logo no primeiro momento. O livro, que é composto de pequeninos capítulos, pétulas de memória, não é invasível ao olhar rápido de um viajante apressado. Não. Ele retém em sua delicadeza a virtuose da inocência, onde Ondjaki mira sua Luanda, revisitando-se em poesia.