Termino a leitura do bom suspense
Mercure de Amélie Nothomb. Em linhas gerais, bem gerais, trata-se da história de uma enfermeira a quem é confiada a missão de cuidar de uma jovem que mora numa ilha deserta com um senhor. Aos poucos, a enfermeira percebe que há alguma coisa muito estranha ali e começa a investigar. Não conto mais, para não atrapalhar a possivel leitura que alguém queira fazer.
Num trabalho tecnicamente primoroso, a autora abre o livro com uma narrativa em primeira pessoa, sob a forma de diário (da personagem Hazel, "prisioneira" do velho senhor), e a partir daí, com pouquíssimas incursões em terceira pessoa, utiliza o recurso da técnica teatral, em que o narrador desaparece por detrás da fala dos personagens. Esse recurso, além de acelarar a narrativa e facilitar o suspense, permite que o leitor tenha uma visão de variados ângulos dos personagens. Na narrativa em primeira pessoa, como sabemos, ficamos com o olhar limitado pelo de quem narra, mas na profusão dos diálogos podemos perceber o que essa fala oculta. Isso é muito interessante do ponto de vista técnico. Até certo momento do texto, por exemplo, temos uma visão da enfermeira dada por ela mesma, mas, pela fala do velho senhor, podemos perceber aspectos ocultos do comportamento dela, que não nos seria possivel acessar.
Nesse jogo, somos aprisionados, não só por isso, mas, entre outras coisas, pela maneira profunda com que a autora procura vasculhar os motivos mais ocultos das ações humanas nas suas relações com a beleza, com a morte, com o amor.
Até onde sei, o livro ainda não foi traduzido para o português. Ficamos na torcida.