sábado, 19 de março de 2011

Faces de Eva


Estive em Portugal onde fiz uma palestra na Universidade Nova de Lisboa. Em seguida, fui convidada por Ana Raquel Fernandes a dar uma entrevista para a revista Faces de Eva. Estudos sobre a Mulher. A revista está disponível no site:


A entrevista segue abaixo.

1. Ieda Oliveira é ficcionista, compositora e professora/investigadora. É fácil conciliar a sua vida de criadora com a sua actividade académica?
R: Acho que sim. Para mim são atividades complementares.

2. Revê-se sobretudo no seu papel de escritora ou no de professora e investigadora?
R: Não sei se no papel. Diria: respirando, existindo como escritora, que tomou de assalto o espaço reservado à professora. Em mim a pesquisa direciona a intuição, alucinada, para a observação calma do fenômeno. Passado o tempo de análise, ela se desloca para o imponderável espaço da criação.

3. Como lida com a palavra enquanto criadora?
R: Como desafio. Como um jogo de vida e morte, em que é preciso arriscar o sentido, mesmo sabendo-o fugidio. Como um exercício contínuo de paciência e paixão.

4. Como surgiu esse seu interesse pela Literatura Infantil?
R: Foi após o convite para musicar um livro infantil. À medida que compunha as músicas, ia envolvendo-me mais e mais com esse universo. Não foi uma coisa premeditada, foi acontecida.

5. A música é uma paixão que completa a sua actividade enquanto ficcionista?
R: Sem dúvida. Ela vai aonde a palavra não chega. É um espaço de quase libertinagem.

6. Foi responsável pela organização do livro O que é Qualidade em Literatura Infantil e Juvenil: com a Palavra o Escritor (Ed. Difusão Cultural do Livro – DCL, 2005). Quais os aspectos que determinam a qualidade num livro de Literatura Infanto-Juvenil?
R: Penso que alguns fatores são vitais para uma literatura infantil de qualidade. O primeiro deles é a consciência de que se está produzindo literatura, o que significa que o livro infantil não é espaço para se ditarem, simuladamente, normas de conduta para crianças ou jovens. Acredito que é de vital importância estimular a fantasia do leitor, não só pela paixão que daí advirá pela leitura, mas também porque, seguramente, estar-se-á contribuindo para o surgimento de um áugure, alguém capaz de, ao pousar o olhar sobre as coisas, inaugurar sentidos. É função de uma literatura infantil que se quer de qualidade ser clara e bela. É preciso que o léxico e a sintaxe empregados sejam acessíveis ao pequeno leitor. Metáforas sofisticadas cuja compreensão lhes escape perdem a função. Escrever um texto criativo, de grande qualidade estética e legível ao olhar de seu leitor é o desafio do escritor de literatura infantil e juvenil.

7. Na sua dissertação de doutoramento abordou a questão do contrato de comunicação na Literatura Infantil e Juvenil (O Contrato de Comunicação da Literatura Infantil e Juvenil, Ed. Nova Fronteira, 2003). De que modo o discurso é condicionado neste género de literatura?
R: Em minha tese de doutorado, orientada pela Professora Doutora Nelly Novaes Coelho e defendida na Universidade Estado de São Paulo (USP) em 2003, levanto a seguinte questão: Quem é o leitor do livro infantil? O mais óbvio e típico é a criança, mas o processo de produção e fruição desse tipo de literatura passa necessariamente por no mínimo três categorias de adultos: os críticos, os adultos da família (pais, avós e outros) e os professores. No Brasil, pelo menos, a aprovação da obra infantil pelo professorado desempenha papel importante, às vezes decisivo, no processo que leva ao sucesso ou insucesso de uma obra desse gênero. O desafio do escritor que se dedica a ele, portanto, consiste em, se possível, “agradar” a todos esses leitores potenciais, principalmente à criança, o que por si já molda em grande parte o contrato de comunicação desse gênero, em cuja produção temos de nos movimentar num espaço “apertado”, ou seja (para usar o termo adotado por Charaudeau), numa margem de manobra estreita.

8. Actualmente organiza um livro intitulado O que é qualidade em Literatura Infantil e Juvenil – com a Palavra o Educador. Qual o papel da Literatura e da Leitura na Educação?
R: Leitura e literatura andam de mãos dadas com a educação, no sentido etimológico do termo. Como é sabido, o verbo educar significa etimologicamente “trazer para fora”, ou seja, despertar conteúdos que já existem de forma potencial na mente do estudante. Nesse sentido, a leitura de uma obra literária educa, ao permitir que o leitor tenha sua visão de mundo apurada e ampliada.

9. Em que medida a Literatura Infanto-Juvenil se revela fundamental na descoberta e formação da identidade da criança e do jovem?
R: Penso que a literatura, oferecendo múltiplos olhares sobre o mundo, estimula a fantasia e o desejo de descoberta.

10. A ilustração nos livros de Literatura Infantil e Juvenil é tão importante como o texto apresentado. No entanto, nem sempre se dá a devida atenção a esta arte. A Ieda organizou o livro O que é Qualidade em Ilustração no Livro Infantil e Juvenil: com a Palavra o Ilustrador (Ed. Difusão Cultural do Livro – DCL, 2008), colaborando com ilustradores portugueses, Teresa Lima, João Vaz e Gémeo Luís. Como se chega a uma narrativa da imagem?
R: Não sei exatamente a importância que é dada aos ilustradores em Portugal, posso falar do que constato no Brasil. A presença do ilustrador, dependendo da faixa etária a que o livro se destine, é de vital importância. O bom ilustrador sempre dialoga com o texto e o enriquece com novas possibilidades de leitura. A ilustradora brasileira Ciça Fittipaldi, em seu artigo nesse livro, diz que “toda imagem tem alguma história para contar. Essa é a natureza narrativa da imagem. Suas figurações e até mesmo formas abstratas abrem espaço para o pensamento elaborar, fabular e fantasiar”. Pois é, nada melhor que ouvir a voz do ilustrador, não?

11. A correspondência entre texto e imagem é essencial para uma qualidade estética da Literatura Infantil e Juvenil?
R: Sim, mas, sabendo que são dois olhares e duas expressões distintas. O ilustrador não é um reduplicador pela imagem do texto que ilustra. É um criador que expressa o texto por meio de seu olhar, em completa liberdade.

12. A Ieda está interessada numa visão global da Literatura Infanto-Juvenil, designadamente, de expressão portuguesa. Tem produzido muito no Brasil, tem colaborado com escritores portugueses, por exemplo, Alice Vieira, e escritores angolanos, como é o caso de Maria Celestina Fernandes. Que relações estabelece entre estas três realidades (Brasil, Portugal e África) tão diferentes entre si? Que aspectos a surpreenderam?
R: Na realidade, a Alice Vieira, a Maria Celestina e outros inúmeros escritores é que têm generosamente contribuído com o nosso projeto, cujo objetivo é ajudar professores, agentes de leitura, estudiosos e interessados em literatura infantil e juvenil a compreender mais apuradamente essa produção destinada a crianças e jovens. Assim como participam escritores, ilustradores e educadores das mais variadas regiões do Brasil, para que se alcance uma visão a mais ampla possível, estendemos o olhar para Portugal e África. O que posso dizer é que o Brasil é Portugal e é África, e isso corre em nossas veias.

13. Quando começou o seu interesse pelo universo da Literatura Infanto-Juvenil em Portugal?
R: Em 1992, num curso de especialização em Literatura Infantil e Juvenil que fazia. Já havia lido textos de autores portugueses produzidos para crianças, mas, quando li Graças e Desgraças na Corte de El Rei Tadinho da Alice Vieira, fiquei fascinada e foi grande a motivação para ler mais da obra dela e de outros escritores portugueses.

14. Quais as diferenças entre o panorama da Literatura Infanto-Juvenil no Brasil e em Portugal?
R: No Brasil e em Portugal, hoje, temos uma literatura produzida por grandes autores e de altíssimo nivel. Prefiro não citar nomes para evitar omissões imperdoáveis.

15. Qual o papel dos contadores de histórias na divulgação desta Literatura?
R: Falo da minha experiência: Quando criança, e ainda não sabia ler, fui introduzida no mundo da literatura por uma babá que era uma exímia contadora de histórias. Sabia muitas e muitas histórias e encantava minha mente com reis, rainhas, princesas, bichos falantes e histórias de assombração. Não me lembro de uma noite sequer em que não tenha dormido sob encantamento. Quando ela se casou e foi embora, eu já sabia ler, e ocupou o seu lugar uma outra babá, a Sheherazade e suas “Mil e uma Noites”. Esse passado construiu a máquina de sonhar que me faz escrever. Devo isso a uma contadora de histórias.

16. Actualmente considera que há um interesse crescente na criação e divulgação da Literatura Infantil e Juvenil?

R: Sem dúvida. As editoras têm investido muito na Literatura Infantil e Juvenil. Esse mercado propício atrai. A questão é que ainda paira uma mentalidade equivocada de que escrever para crianças é fácil e qualquer coisa está bem. Nossa preocupação é exatamente mostrar, na contra-mão desse equívoco, que escrever para crianças requer talento, conhecimento e domínio literário.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Cancelamento

Infelizmente cancelei minha viagem este ano para o Japão.

terça-feira, 15 de março de 2011

Japão

Tenho viagem marcada para o Japão em junho. Minha alegria nos últimos anos tem sido passar meu aniversário lá. Já não sei se será possível. Seria a quinta vez que viajaria ao país, que adoro.
De alguns amigos já tive notícias, de outros não. É corte na veia. Não consigo parar de sangrar.

O crédito da bandeira é de Susan Clayre

segunda-feira, 14 de março de 2011

ABZ do Ziraldo link

Quem desejar ver mais detalhes, não só de minha participação, mas também da de vários amigos no programa do Ziraldo, o link é o abaixo.
http://www.tvbrasil.org.br/abzdoziraldo/

sábado, 12 de março de 2011

Rhaimischimbilim!!!!

Emocionada, recebo de Ney Marques, diretor musical da Orquestra Bachiana Filarmônica, do Maestro João Carlos Martins, a notícia de que seu novo CD instrumental, a ser lançado este ano, receberá, em minha homenagem, o nome Rhaimischimbilim.

Rhaimischimbilim foi a primeira palavra que inventei em minha vida. Tinha 6 para 7 anos. Ela surgiu de minha necessidade de viver mundos imaginários, onde a música, a dança, o sonho, a fantasia enfim, pudessem reinar em sua inteireza, longe da banalidade do mundo exterior.

Era a palavra que abria as portas de meu imaginário e que me permitia ser tudo: cantora, bailarina, poeta, pássaro, princesa e viajante do tapete mágico, que me levava para além do mundo visível. Quando eu a pronunciava , todo o entorno desagradável deixava de existir.

Muitos anos mais tarde, adulta, retomei essa palavra, decifrando-a e fazendo vir ao visível o que permanecia apenas em meu silêncio. Foi quando escrevi meu primeiro livro, na ocasião publicado pela Ed. Ao Livro Técnico e hoje republicado pela ed. DCL, com o título Raimishimbilim - O Mistério da família Salles.