terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Os sete saberes necessários à educação do futuro

Alguma coisa de urgente precisa ser feita pela educação e considero lúcidas as sugestões de Edgar Morin. Posto aqui os pontos vitais apresentados por ele em sua obra Os sete saberes necessários à educação do futuro, publicada no Brasil pela Ed. Cortez. Os que lêem francês podem acessar diretamente o texto original aqui.

1- As cegueiras do conhecimento: o erro e a ilusão

É impressionante que a educação que visa a transmitir conhecimentos seja cega quanto ao que é o conhecimento humano, seus dispositivos, enfermidades, dificuldades, tendências ao erro e à ilusão, e não se preocupe em fazer conhecer o que é conhecer. De fato, o conhecimento não pode ser considerado uma ferramenta "ready made", que pode ser utilizada sem que sua natureza seja examinada. Da mesma forma, o conhecimento do conhecimento deve aparecer como necessidade primeira, que serviria de preparação para enfrentar os riscos permanentes de erro e de ilusão, que não cessam de parasitar a mente humana. Trata-se de armar cada mente no combate vital rumo à lucidez. É necessário introduzir e desenvolver na educação o estudo das características cerebrais, mentais, culturais dos conhecimentos humanos, de seus processos e modalidades, das disposições tanto psíquicas quanto culturais que o conduzem ao erro ou à ilusão.

2-Os princípios do conhecimento pertinente

Existe um problema capital, sempre ignorado, que é o da necessidade de promover o conhecimento capaz de apreender problemas globais e fundamentais para neles inserir os conhecimentos parciais e locais. A supremacia do conhecimento fragmentado de acordo com as disciplinas impede freqüentemente de operar o vínculo entre as partes e a totalidade, e deve ser substituída por um modo de conhecimento capaz de apreender os objetos em seu contexto, sua complexidade, seu conjunto. É necessário desenvolver a aptidão natural do espírito humano para situar todas essas informações em um contexto e em um conjunto. É preciso ensinar os métodos que permitam estabelecer as relações mútuas e as influências recíprocas entre as partes e o todo em um mundo complexo.

3- Ensinar a condição humana

O ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social, histórico. Esta unidade complexa da natureza humana é totalmente desintegrada na educação por meio das disciplinas, tendo-se tornado impossível aprender o que significa ser humano. É preciso restaurá-la, de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência, ao mesmo tempo, de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos. Desse modo, a condição humana deveria ser o objeto essencial de todo o ensino. Este capítulo mostra como é possível, com base nas disciplinas atuais, reconhecer a unidade e a complexidade humanas, reunindo e organizando conhecimentos dispersos nas ciências da natureza, nas ciências humanas, na literatura e na filosofia, e põe em evidência o elo indissolúvel entre a unidade e a diversidade de tudo que é humano.

4-Ensinar a identidade terrena

O destino planetário do gênero humano é outra realidade-chave até agora ignorada pela educação. O conhecimento dos desenvolvimentos da era planetária, que tendem a crescer no século XXI, e o reconhecimento da identidade terrena, que se tornará cada vez mais indispensável a cada um e a todos, devem converter-se em um dos principais objetos da educação. Convém ensinar a história da era planetária, que se inicia com o estabelecimento da comunicação entre todos os continentes no século XVI, e mostrar como todas as partes do mundo se tornaram solidárias, sem, contudo, ocultar as opressões e a dominação que devastaram a humanidade e que ainda não desapareceram. Será preciso indicar o complexo de crise planetária que marca o século XX, mostrando que todos os seres humanos, confrontados de agora em diante aos mesmos problemas de vida e de morte, partilham um destino comum.

5 -Enfrentar as incertezas

As ciências permitiram que adquiríssemos muitas certezas, mas igualmente revelaram, ao longo do século XX, inúmeras zonas de incerteza. A educação deveria incluir o estudo das incertezas que surgiram nas ciências físicas (microfísicas, termodinâmica, cosmologia), nas ciências de evolução biológica e nas ciências históricas. Seria preciso ensinar princípios de estratégia que permitiriam enfrentar os imprevistos, o inesperado e a incerteza, e modificar seu desenvolvimento, em virtude das informações adquiridas ao longo do tempo. É preciso aprender a navegar em um oceano de incertezas, em meio a arquipélagos de certeza. A fórmula do poeta grego Eurípedes, que data de vinte e cinco séculos, nunca foi tão atual: “O esperado não se cumpre, e ao inesperado um deus abre o caminho”. O abandono das concepções deterministas da história humana que acreditavam poder predizer o nosso futuro, o estudo dos grandes acontecimentos e desastres de nosso século, todos inesperados, o caráter doravante desconhecido da aventura humana devem-nos incitar a preparar as mentes para esperar o inesperado, para enfrentá-lo. É necessário que todos os que se ocupam da educação constituam a vanguarda ante a incerteza de nossos tempos.

6-Ensinar a compreensão

A compreensão é a um só tempo meio e fim da comunicação humana. Entretanto, a educação para a compreensão está ausente do ensino. O planeta necessita, em todos os sentidos, de compreensão mútua. Considerando a importância da educação para a compreensão, em todos os níveis educativos e em todas as idades, o desenvolvimento da compreensão pede a reforma das mentalidades. Esta deve ser a obra para a educação do futuro. A compreensão mútua entre os seres humanos, quer próximos, quer estranhos, é daqui para frente vital para que as relações humanas saiam de seu estado bárbaro de incompreensão. Daí decorre a necessidade de estudar a incompreensão a partir de suas raízes, suas modalidades e seus efeitos. Este estudo é tanto mais necessário porque enfocaria não os sintomas, mas as causas do racismo, da xenofobia, do desprezo. Constituiria, ao mesmo tempo, uma das bases mais seguras da educação para a paz, à qual estamos ligados por essência e vocação.

7-A ética do gênero humano

A educação deve conduzir à “antropo-ética”, levando em conta o caráter ternário da condição humana, que é ser ao mesmo tempo indivíduo/sociedade/espécie.Nesse sentido, a ética indivíduo/sociedade/espécie necessita do controle mútuo da sociedade pelo indivíduo e do indivíduo pela sociedade, ou seja, a democracia; a ética indivíduo/espécie convoca, ao século XXI, a cidadania terrestre. A ética não poderia ser ensinada por meio de lições de moral. Deve formar-se nas mentes com base na consciência de que o humano é, ao mesmo tempo, indivíduo, parte da sociedade, parte da espécie. Carregamos em nós esta tripla realidade. Desse modo, todo desenvolvimento verdadeiramente humano deve compreender o desenvolvimento conjunto das autonomias individuais, das participações comunitárias e da consciência de pertencer à espécie humana. Partindo disso, esboçam-se duas grandes finalidades ético-políticas do novo milênio: estabelecer uma relação de controle mútuo entre a sociedade e os indivíduos pela democracia e conceber a Humanidade como comunidade planetária. A educação deve contribuir não somente para a tomada de consciência de nossa Terra-Pátria, mas também permitir que esta consciência se traduza em vontade de realizar a cidadania terrena.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Está chegando o novo livro!!


Em breve estarei divulgando aqui os detalhes do novo livro que organizei O que é qualidade em ilustração no livro infantil e juvenil - com a palavra o ilustrador, Ed. DCL, que será lançado este ano. Posso adiantar que participam dele alguns dos nomes mais expressivos da ilustração no Brasil e em Portugal.
A imagem acima, que foi enviada por e-mail e não está no livro, é da Cristina Biazetto, uma das participantes desse projeto.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Take a seat...tudo pela leitura!

Recebo de Galeno Amorim a informação de que o designer holandês Jelte van Geest inventou uma cadeira que acompanha o leitor desde sua entrada na biblioteca. Basta passar o cartão de usuário com a senha magnética ou o código de barras. Realmente, tudo pela leitura. Confiram.

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Comentário Geral!


A partir da próxima quinta-feira, dia 31, começa a participação fixa do Helênio, meu marido, no programa Comentário Geral da TVE Brasil apresentado por Larissa Prado, e que vai ao ar todas as quintas-feiras, às 22 horas. O programa se desenvolve a partir de uma palavra-tema e vários especialistas falam sobre ela. O Helênio estará sempre, no início do programa, falando da etimologia da palavra escolhida.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Homenagem quae sera tamen!

Martin Luther king Day


Hoje, 21 de janeiro, é feriado nos EUA em homenagem a

Martin Luther King.


Se soubesse que o mundo se desintegraria amanhã, ainda assim plantaria a minha macieira. O que me assusta não é a violência de poucos, mas a omissão de muitos. Temos aprendido a voar como os pássaros, a nadar como os peixes, mas não aprendemos a sensível arte de viver como irmãos.
Martin Luther King

Fiz estas fotos em setembro de 2007, no Museu da Escravatura em Luanda.

Quem somos nós?

Somos descendentes de escravos. Somos a prole de homens e mulheres com dignidade e honra duma história rica e nobre. Mas somos também os herdeiros de um passado doloroso de exploração. Eu não me envergonho disso. Envergonho-me, sim, daqueles que nos fizeram escravos.
Martin Luther King


De Luanda sairam aproximadamente oito milhões de escravos.




sábado, 19 de janeiro de 2008

Langage et Discours em português


Acaba de ser publicado pela ed. Contexto, com a organização de duas amigas minhas, Aparecida Lino Pauliukonis (UFRJ) e Ida Lúcia Machado (UFMG), o Linguagem e Discurso, do teórico francês Patrick Charaudeau. É dele o conceito de contrato de comunicação, que aplico à literatura infantil e juvenil na minha tese de doutorado, O Contrato de Comunicação da Literatura Infantil e Juvenil, publicada pela ed. Lucerna e que agora sairá pela Ed. Nova Fronteira.

Para os que não lêem francês essa tradução é um achado, pois esse livro é uma referência para os estudiosos da Análise Semiolingüística do Discurso.
À frente de uma equipe de tradutores de Minas e do Rio estão a Ângela Corrêa e a Ida Lúcia. Todos pertencem ao CIAD - Círculo Interdisciplinar de Análise do Discurso da UFRJ e UFMG que é ligado ao CAD - Centre d'Analyse du Discours, de Paris.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Ponte Vecchio, Bach e Sarah Chang

Ponte Vecchio - óleo por Gordon Galiano

Hoje está chovendo aqui no Rio. O verão ficou momentaneamente com cara de inverno. Lembrei-me dos dias em Florença, da "Ponte Veccio" e do violonista tocando Air on the G String . Era quase noite quando fui atraída pelo som. Fiquei alí parada sentindo. A partir daí, durante todo o tempo que fiquei em Florença, essa música ficou comigo. Voltei a ouví-la em situação semelhante na Place des Vosges, em Paris, num dia igualmente chuvoso, em que um grupo de músicos, a executava. Com Sarah Chang revivo este momento.

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Surpresa!

Ontem postei um texto do meu amigo Gustavo e hoje fico sabendo que postaram um meu. Foi uma palestra que fiz na Academia Brasileira de Letras com o título: "A Maioridade da Literatura Infantil". Quem quiser ler, o endereço é: blog.cancaonova.com/sergiofernandes/tag/literatura

segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

O Caso do Professor de Mímese

Gustavo Bernardo, além de grande amigo, é escritor, crítico e professor da UERJ. Ele é responsável por um dos grandes momentos do livro que organizei: O que é qualidade em Literatura Infantil e Juvenil - com a palavra o escritor. Reproduzo aqui um de seus textos: "O Caso do Professor de Mímese".


Era uma vez um professor de mímese. Esse professor é um velho camaleão sentado sobre a árvore onde funciona a escola de camuflagem. Ele mostra aos alunos como ficar da cor de uma folha verde, e depois exige que os alunos façam o mesmo. Dois alunos obedecem, mas o terceiro fica roxo. O professor se irrita e mostra painel no qual um camaleão roxo atrai um gavião.




De repente todos escutam um pio lúgubre: é o gavião! O mestre esconde o painel e fica verde; os dois alunos aplicados o imitam. O mau aluno se apavora e tenta acompanhá-los, mas fica amarelo de medo e se destaca da paisagem. Ele olha para baixo da árvore, encontra uma superfície amarela e pula nela para se proteger. Consegue se camuflar, mas primeiro se torna amarelo para depois encontrar superfície daquela cor. Ironicamente, o camaleão relapso cai em cima do teto amarelo de um ônibus escolar, que o leva para a cidade. Quando chega lá o réptil salta na calçada; um pintor o encontra. O bicho tenta se camuflar mas só consegue adquirir uma cor berrante. O pintor, impressionado, o pega na mão e o leva para o ateliê, onde o coloca sobre uma mesa manchada de muitas tintas. O pequeno animal vê um estilete cravado na madeira. Assustado, faz novo esforço para se camuflar, mas fica com a pele azul e branca. O pintor, admirado, começa a pintá-lo. Na cena seguinte o pintor, com o camaleão colorido no ombro, comemora a exposição das suas pinturas, todas com o bicho como tema. Nos quadros o camaleão relapso faz o contrário do que ensinava seu professor: ele se destaca do fundo e mostra-se exuberante.



Em 1961, nascia na Inglaterra Diana Spencer. Com 18 anos, começou a namorar com o herdeiro do trono britânico. Em 1981, o príncipe e a plebéia casaram-se em Londres, em cerimônia acompanhada pelo planeta. No Brasil, milhões viam as imagens e se comoviam às lágrimas. Não vivíamos sob uma monarquia, mas pouco importava: um conto de fadas, com o príncipe e a princesa, era transmitido pela televisão. Charles e Diana tiveram dois filhos. A princesa torna-se uma referência afetiva para o povo inglês. Esbanjando fotogenia e senso de oportunidade, Diana praticava obras de caridade e conversava com o povo. O casamento de conto de fadas, porém, não ia bem. Cresciam os rumores sobre a traição de Charles. No final de 1992, o casal se separa. No longo processo de divórcio, Diana perde o tratamento de Alteza Real e ganha 180 milhões de libras esterlinas. Em 30 de agosto de 1997, voltava de um jantar em Paris com o namorado, o milionário Dodi Al Fayed. O motorista, para fugir da perseguição dos PAPARAZZI, dirige em alta velocidade. O carro se desgoverna: Diana e Dodi perdem a vida. Nova comoção mundial: todas as imagens eram novamente transmitidas pela televisão para o mundo. No Brasil, milhões de pessoas viam as imagens e se comoviam às lágrimas. Não éramos ingleses, mas que importava: tratava-se de uma boa história de amor, traição e morte. Acrescia-lhe ingrediente extra: os vilões da história pareciam ser os próprios homens dos MEDIA, encarnados nos fotógrafos PAPARAZZI. A cobertura televisiva não disfarçava o constrangimento. O Príncipe Charles abandona o protocolo e corre a Paris. A Rainha Elizabeth II, no entanto, que nunca aceitou Diana e sua intimidade com as pessoas do povo, se esconde atrás de comunicados lacônicos. A Rainha-Mãe assume o papel que faltava: o da Madrasta.

A história do camaleão berrante aparece no desenho animado dirigido por Cassidy Curtis, chamado The art of survival. O desenho, com três minutos de duração, foi realizado em 1998. Para sobreviver camaleões se mimetizam com o ambiente e desse modo fingem que não existem. Os camaleões inspiraram parte das teorias vigentes da ficção, segundo as quais a obra deve representar tão bem a realidade que com ela se confunda. Uma natureza-morta, por exemplo, leva o espectador a tentar pegar a maçã para comer. Todavia, uma natureza-morta não o é à toa: o quadro de uma maçã não pode ser uma maçã, trata-se de outra coisa. Como diria René Magritte debaixo de um cachimbo pintado, CECI N'EST PAS UNE PIPE - "isto não é um cachimbo". Lembrava Magritte de Diderot, que antes dele escrevera um conto intitulado: CECI N'EST PAS UN CONTE. No entanto, essa outra coisa - nem maçã nem cachimbo nem conto - é real também. Ela nos oferece uma outra realidade que às vezes faz tremer aquilo que vínhamos chamando de "realidade". O camaleão trêmulo remete a uma suspeita sobre a arte que, por sua vez, remete à suspeita que a arte levanta sobre a realidade mesma. O camaleão sobreviveu fazendo o contrário do que mandava o professor. Desse modo, deixou implícita uma outra teoria da ficção que, para além de reproduzir o real, recria-o. Na literatura, a mímese pode implicar a produção de um "efeito de real", como quando o escritor se preocupa em colocar os personagens dirigindo automóveis em ruas que de fato existem. Mas a mímese também implica a geração de uma espécie de bruma que desrealiza o real e, assim, cria um novo real. Como lembra Luiz Costa Lima: "a MÍMESIS, se ainda cabe insistir, não é imitação porque não se confunde com o que a alimenta" [Costa Lima: 45]. Na concepção de Dirce Riedel, a literatura tem a realidade não por trás, mas diante de si. Por ser doadora de sentido, a imaginação literária transforma um real preexistente no real pensado que só pode existir, ou acontecer, através dela [Riedel: 78]. No mundo "real", consideramos verdadeiro que Napoleão Bonaparte tenha sido morto em Santa Helena no dia 5 de maio de 1821. Contudo, historiadores mantêm a mente aberta para admitir nova data para a morte de Napoleão, caso novos documentos provem o contrário do que se sabia. O mundo criado pela mímese, no entanto, é diferente. No mundo da ficção, Sherlock Holmes é solteiro e não pode não ser, assim como Super-Homem é Clark Kent e não pode não ser. Os exemplos são de Umberto Eco. Para ele os textos ficcionais, à diferença do mundo e ainda quando ambíguos, explicitam uma margem clara de certeza [Eco: 13], conduzindo-nos a paradoxo interessante: a ficção desrealiza o real para criar um novo real mais seguro, portanto "mais real", do que aquele que se encontrava no ponto de partida. O real ele mesmo treme, como o camaleão tremia de medo.


A fábula se apresenta com a força de um fato, mas alguns fatos têm força de fábula. A história de Diana Spencer é real, mas o mundo a acompanha como se fosse ficção, vivendo-a com a intensidade catártica de uma história inventada. A realidade mesma é estranha. Diana morre em 1997. David Lodge escreve no ano seguinte uma peça de teatro que alude à sua morte, transformando-a em 1999 na novela Home truths, traduzida no Brasil como Verdades secretas. A narrativa fala da difícil relação entre a fábula e o fato. Fanny Tarrant, personagem de Lodge, é uma jornalista feroz. Ela entrevista o roteirista Samuel Sharp, expondo a sua vaidade e o levando ao ridículo. Sharp, ofendido, recorre ao amigo de infância, o escritor Adrian Ludlow. Adrian organiza antologias e vive dos direitos de romances antigos. Por vinte anos, guarda um segredo: parou de escrever porque não ganhou certo prêmio literário. Como sabe que Fanny também deseja entrevistar Adrian, Samuel pede ao amigo que prepare uma armadilha para Miss Tarrant: grave escondido a conversa para escrever depois um artigo devastador que humilhe a jornalista. Na entrevista, no entanto, Fanny e Adrian quase têm um caso. São interrompidos por Eleanor, mulher do escritor, que, ofendida, acaba revelando o segredo do marido. Logo se arrepende e lhe pede que não publique, mas Fanny diz: você sabia o que eu faço para viver. Desalentada, Eleanor concorda: YES, YOU DESTROY PEOPLE'S LIVES - "sim, você destrói a vida das pessoas", insinuando-se na casa delas, seduzindo-as com observações elogiosas e traindo-as a seguir [Lodge: 91]. O final mistura ficção e realidade. A jornalista está viajando de férias para a Turquia, quando escuta no rádio a notícia da morte de Diana. Ela fica ao mesmo tempo comovida e desesperada: naquele dia saía no jornal tanto a sua entrevista com Adrian quanto um artigo sarcástico, também seu, sobre Diana. Se na entrevista ela revela o segredo de Adrian, no artigo ridiculariza a ambigüidade da Princesa: SHE WANTS TO HAVE IT BOTH WAYS - "ela quer ter os dois mundos", acalentando bebês famintos sob os joelhos e divertindo-se no iate de Dodi [Lodge: 129]. Fanny abandona a viagem e tenta voltar. Perde-se no caminho e acaba parando na casa de Adrian, onde se encontram também Eleanor e Samuel. Eles não sabiam ainda da morte de Diana. A jornalista diz a Adrian que não se preocupe, naquele dia ninguém vai ler a entrevista, mas todos lerão seu artigo desastrado. Fanny sai da casa. O trio de amigos está estupefato. Adrian comenta: IT'S SO INCREDIBLY POETIC, ISN'T IT? LIKE A GREEK TRAGEDY. YOU DON'T EXPECT LIFE TO IMITATE ART SO CLOSELY [Lodge: 131]. Em português: "Isso tudo é tão inacreditavelmente poético, não é? Como se fosse uma tragédia grega. Você não espera que a vida imite a arte tão de perto". Diana, perseguida pelos PAPARAZZI, as Fúrias contemporâneas, morre com seu novo amante, deixando simétricos o amor e a morte. Eleanor fica assustada com Adrian: MUST YOU TURN EVERYTHING IN LITERATURE? - "você precisa transformar tudo em literatura?" [Lodge: 132]. Mas Eleanor é uma personagem literária que pergunta ao marido, um escritor ele mesmo outro personagem literário, se é preciso transformar tudo em literatura: a ficção engole a ficção, uroboricamente. Os personagens passam a falar da catarse que a nação estaria vivendo naquele momento. Sentam-se juntos para ver a cobertura da televisão, esquecidos das discussões anteriores. Na tela, o locutor também chora. O jornal com a entrevista chega, mas não tem mais importância.


A história de Diana, combinada ao romance de David Lodge, nos leva de volta ao fracasso do professor de mímese, mostrando que uma teoria da ficção, ainda que sempre incompleta, talvez seja necessária não somente para se lidar melhor com os textos ficcionais, mas também para se lidar melhor com aquilo que chamamos de realidade.

Referências
COSTA LIMA, Luiz. Mímesis e modernidade: formas das sombras. São Paulo: Paz e Terra, 2003. RIEDEL, Dirce Côrtes. Metáfora, o espelho de Machado de Assis. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1974. ECO, Umberto. Sobre a literatura. Tradução de Eliana Aguiar. Rio de Janeiro: Record, 2003. REUTER, Yves. A análise da narrativa. Tradução de Mário Pontes. Rio de Janeiro: Difel, 2002. LODGE, David. Home truths. London : Penguin Books, 1999.

domingo, 13 de janeiro de 2008

ALOUETTE, GENTILLE ALOUETTE!!!


Quem não conhece esta "alegre" canção que fala de uma cotovia?

Lembro que eu era obrigada a cantá-la nas fastidiosas aulas de Francês de Madame Joséphine. Tinha então onze anos. Fico tentando imaginar o que se passa na cabeça de um professor que põe uma turma de crianças pra cantar, "alegremente", uma canção dessas. Mas eles o fazem, ainda hoje.

Confiram a "letrinha"...

Alouette, gentille alouette,
Alouette, je te plumerai.
Je te plumerai le bec, je te plumerai le bec,
Et le bec, et le bec, Alouette, Alouette !
(refrain)
Je te plumerai les yeux, je te plumerai les yeux,
Et les yeux, et les yeux, et le bec, Alouette, Alouette !
refrain)
Je te plumerai les yeux, je te plumerai le cou,
Et le cou, et le cou, et le bec, et les yeux, Alouette, Alouette !
(refrain)
Je te plumerai les yeux, je te plumerai le ventre,
Et le ventre, et le ventre, et le cou et le bec, et les yeux,
Alouette, Alouette !
(refrain)
Je te plumerai les yeux, je te plumerai le dos,
Et le dos et le dos et le ventre, et le cou et le bec,
et les yeux, Alouette, Alouette !
(refrain)
Je te plumerai les yeux, je te plumerai les ailes,
Et les ailes et les ailes et le dos et le ventre,
et le cou et le bec, et les yeux,
Alouette, Alouette !
(refrain)
Je te plumerai les yeux, je te plumerai la queue,
Et la queue et la queue et les ailes et le dos et le ventre, et le cou et le bec, et les yeux,
Alouette, Alouette !
(refrain)


Agora, se a depenada alouette pudesse falar, o que será que diria dessa musiquinha?



quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

Mostra Internacional do Filme Etnográfico


Desde o dia 8 de Janeiro, a Fundação Casa de Rui Barbosa está promovendo, em seu auditório, a reapresentação de uma seleta da programação da 12a Mostra Internacional do Filme Etnográfico, com exibições às terças e quintas-feiras, às 16 horas, e entrada franca.

O festival apresenta as mais recentes produções de filmes e vídeos documentários, incluindo produções clássicas e recentes. O projeto é coordenado pela antropóloga Patrícia Monte-Mór e pelo documentarista José Inácio Parente. Vale a pena conferir.

15.01, terça-feira, às 16h

A dura vida de uma vida fácil- Paulo Seussett, 19 min., Brasil, 2006. Documentário sobre prostituição, mostrando o ponto de vista das trabalhadoras do sexo. Nesse filme elas falam como começaram, dos seus sonhos de infância e dos seus sonhos atuais, o que fazem para encarar a noite, do preconceito que sofrem e se gostariam que suas filhas seguissem pelo mesmo caminho.

Suzy Brasil - A deusa da Penha Circular, Renata Than, 20 min., Brasil, 2007. Suzy Brasil, a drag queen que hipnotiza platéias com seus shows em boates no Rio de Janeiro. Marcelo, o pacato professor de biologia do ensino médio. Ambos moradores DA Penha Circular, coincidência?

Sobre Rodas Brasil, Sérgio Bloch, 52 min., Brasil, 2007. Por um longo período o homem carregou seus pertences sobre os ombros. Com a invenção da roda, há cerca de 7 mil anos, a civilização acelerou enormemente seu desenvolvimento. Hoje, seria inconcebível o mundo sem este tão simples e perfeito objeto. Sobre rodas Brasil retrata o cotidiano de personagens que, puxando, empurrando ou pedalando algum veículo, ganham a vida pelas ruas de diversas cidades brasileiras.

17.01, quinta-feira, às 16h

Zabumba- Marcelo Rabelo, 42 min., Brasil, 2000 . Em Canudos Velho, sertão da Bahia, região onde aconteceu uma guerra no século 19, a cultura popular tem se tornado um dos elementos que remetem às suas origens. A tradição da Zabumba, como é também conhecida as bandas de pífanos na região, é preservada por quatro irmãos que juntos mantêm viva a memória de seus antepassados. Quiquio, 19 anos, flautista e líder do grupo, sai em busca de suas raízes, dialoga e visita parentes, seus costumes, histórias, músicos jovens e mestres em outras localidades DA região.

Margem- Maya Da-Rin, 54 min., Brasil, 2007. Durante dois dias e três noites uma embarcação navega lentamente pelo rio Amazonas, partindo da fronteira do Brasil com a Colômbia em direção à cidade peruana de Iquitos. A margem se revela diante da câmera à medida que os passageiros divagam sobre um território de múltiplas feições e em constante transformação.

22.01, terça-feira, às 16h

O canto das canoas, Priscilla Ermel, 25 min., Brasil, 2006. Sob o olhar de Seu Ditinho, mestre cirandeiro e construtor de canoas, a tradição da ciranda, performance que resume, em seus versos, cantos, e danças, a essência do ser caiçara. Assim, participamos da perspectiva aprendiz do menino Albert, para quem o mestre cirandeiro conta sua vida e arte.

Pïrinop, meu primeiro contato- Mari Corrêa e Karané Ikpeng, 83 min., Brasil, 2007. Em 1964, os índios Ikpeng têm o seu primeiro contato com o homem branco numa região próxima ao rio Xingu, no Mato Grosso. Ameaçados em seu território por invasões de garimpeiros, eles são transferidos para o Parque Indígena do Xingu, onde ainda vivem. Mas os Ikpeng sofrem com o exílio de suas terras ancestrais e hoje lutam para reconquistá-las. Unindo o passado ao presente, os Ikpeng evocam em um misto de tristeza e humor, as preciosas lembranças daqueles momentos e interpretam episódios que os brancos e suas câmeras não presenciaram. Relatado do ponto de vista dos próprios índios, o documentário desloca nosso olhar para um outro enfoque, numa inversão de papéis onde o “outro” somos nós.

24.01, quinta-feira, às 16h

Baque Solto - Suiá Chaves e Tatiana Gentile, 26 min., Brasil, 2007. Zona da Mata Norte e Zona Metropolitana de Pernambuco. É Carnaval. Preparo, estrada, esperas, apresentações. O filme acompanha o Maracatu de Baque Solto Leão de Ouro de Condado durante os três dias de Carnaval.

L.A.P.A- Emilio Domingos e Cavi Borges, 75 min., Brasil, 2007. Tradicional bairro boêmio do Rio de Janeiro, reduto de sambistas no início do século 20, o bairro da Lapa também serviu como ponto de encontro do RAP nessa cidade, no final do mesmo século (anos 90). O filme mostra, através de alguns MCs, o cotidiano e o desenvolvimento dessa cultura.

29.01, terça-feira, às 16h

O evangelho segundo seu João- Eduardo Souza Lima, Leonardo Gomes e João Moraes, 17 min., Brasil, 2006. Não se trata de um filme sobre a Folia de Reis, mas sobre um homem santo de 74 anos que comanda folias há 56 anos. Ele é analfabeto, mas tem a função de ser um sábio que não pode deixar perguntas sem respostas. Isso o leva a criar parábolas e estruturas de abordagem totalmente peculiares e inéditas.

Batatinha e o samba oculto da Bahia- Pedro Abib, 48 min., Brasil, 2007. Documentário sobre o famoso sambista baiano Oscar da Penha – o Batatinha – já falecido e que deixou uma obra comparável aos grandes mestres do samba do Brasil. Busca mostrar também alguns outros sambistas da velha guarda da Bahia, infelizmente pouco conhecidos do grande público. A narrativa se utiliza de elementos de ficção, através da participação de 3 atores interpretando universitários que saem em busca de informações sobre Batatinha, para cumprir uma tarefa de realizar um documentário sobre o grande mestre. Conta com depoimentos de Paulinho da Viola, Maria Bethânia, Riachão, Edil Pacheco, Nelson Rufino e outros grandes compositores do samba brasileiro.

A Bença- Tarcísio Lara Puiati, 52 min., Brasil, 2006. Mãe Enedina, 90. Mãe Maria, 74. Mãe Mimi, 75. Um recorte do cotidiano de três senhoras do candomblé na Baixada Fluminense. A passagem do tempo, a terceira idade, o respeito mútuo entre os jovens e os mais velhos no candomblé, a crença no culto de orixás, são alguns dos temas desse documentário da série DOCTV III.

31.01, quinta-feira, às 16h

Em (si) mesma, Andréa Barbosa, 24 min., Brasil, 2006. Michele e Dalva são pacientes em desinternação progressiva no Manicômio Judiciário de Franco da Rocha. Margarida é psicóloga na mesma instituição. Três mulheres ligadas pela fotografia, instrumento que sela uma relação de respeito e desejo pela vida. Este filme recebeu o Prêmio Estímulo de Curta-Metragem da Secretaria da Cultura do Estado de São Paulo.

O profeta das águas- Leopoldo Nunes, 83 min., Brasil, 2005. Em 1966, o governo militar brasileiro decide iniciar a construção da hidrelétrica de Ilha Solteira, que inundaria toda a região de Rubinéia, na fronteira de São Paulo com Mato Grosso do Sul e Minas Gerais. Em outubro de 1970, o líder religioso Aparecido Galdino Jacintho rezava com seus fiéis no seu templo, em Rubinéia, à espera do Exército Nacional, que se juntaria ao Exército da Força Divina. Juntos, partiriam rumo a Mato Grosso para curar, pregar a paz e praticar a justiça, além de impedir a construção da barragem. Enfim chega a força militar, conforme a profecia, mas para reprimir os fiéis com violência brutal. O filme resgata documentos históricos de arquivos das justiças comum e militar, arquivos de hospitais psiquiátricos e localiza diversas pessoas que vivenciaram o episódio.


quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Música no Museu abre temporada no Rio

Esta programação é imperdível. Alguns aspectos dela me tocaram de maneira especial: as presenças talentosas do Paulo Pedrassoli e do Gaetano Galifi, a quem devo a aprendizagem musical e o amor de meu filho pela música, e o belíssimo Mosteiro de São Bento, que muito freqüentei quando era professora de Literatura do Colégio de São Bento, no Rio de Janeiro.

É gostoso lembrar esse tempo. Da minha turma (acompanhei-os durante os três anos do curso clássico) saíram, entre outros, o pianista José Carlos Coccarelli, que dispensa apresentações, o filósofo José Thomas Brum Duarte, professor de Filosofia da pós-graduação da PUC, e José Carlos Barcellos, primeiro aluno do São Bento e hoje professor de Literatura Portuguesa da pós- graduação da UERJ e da UFF. Diz ele que por minha culpa.
Lembro, quando fiquei grávida da minha filha, a farra que foi na turma. Eles acompanharam passo a passo a minha gravidez. Lembro-me da delicadeza desses "garotos" de ficar sempre um deles me esperando para subir comigo para a sala de aula. Quando ela nasceu, foi todo mundo para a maternidade levando rosas amarelas, que eles sabiam ser minhas favoritas.
São essas reservas afetivas que nos alentam quando menos esperamos.

MÚSICA NO MUSEU

Janeiro/Fevereiro 2008.

Música no Museu , no seu 11º ano, abre a temporada 2008 ,no Rio de Janeiro, no dia 11 de janeiro às 12:30hs, no CC Light com a Camerata de Violões do Conservatório Brasileiro de Música, dirigida por Paulo Pedrassoli. Serão 18 concertos em janeiro e 17 em fevereiro ressaltando-se a música clássica em pleno verão e uma alternativa à programação de carnaval na cidade e, assim, mantendo a tradição de maior série de música clássica no Brasil.
Outros destaques: João Carlos Assis Brasil, dia 18/1, no CC Justiça Federal, dia 29/1 no Museu do Exército (Forte de Copacabana) o Grupo Bach A4, com a releitura das sonatas para flauta de J.S Bach usando uma formação jazzística (flauta, piano, contrabaixo e bateria). Já em fevereiro, dia 12 no PAÇO IMPERIAL., Jerzy Milewsky, violino e Aleida Schwarz, piano com um programa de músicas ciganas. DIA 14 no MUSEU DA REPÚBLICA , Maria Luiza Colker, piano e Bernardo Katz, violoncelo com um programa de Beethoven, Forêt, Chopin. DIA 15 no CENTRO CULTURAL LIGHT, Bruce Henri Quarteto, com o programa Villa´s Voz- Villa-Lobos em ritmo de jazz. Arranjos Bruce Henri. Já no dia 19/2, no MOSTEIRO DE SÃO BENTO, o Quinteto Carioca de Sopros apresenta um programa de G. Bizet, J. Ibert, Mozart, Alberto Nepomuceno, A. Liadov, Ernesto Nazareth. Maiores informações no site http://www.musicanomuseu.com.br/

RIO DE JANEIRO

Janeiro 2008

DIA 11 - sexta-feira – 12:30hs CENTRO CULTURAL LIGHT.Rua Marechal Floriano, 168 – CentroCapacidade: 200 lugaresMúsico: CAMERATA DE VIOLÕES DO CONSERVATÓRIO BRASILEIRO DE MÚSICA.Direção: Paulo PedrassoliPrograma: Lorenzo Fernandez, Ricardo Tacuchian e Gaetano Galifi, entre outros

Dia 12- sábado-, 18:00hs MUSEU DO EXERCITO- Forte de Copacabana.Praça Coronel Eugenio Franco, no. 1- Posto 6- CopacabanaEncontro de Corais.Capacidade: 600 pessoas
Músico: Abstrassom Programa: Tom Jobim, Villa-Lobos


DIA 13 – domingo – 11:30 MUSEU DE ARTE MODERNA Av. Infante Dom Henrique, 85 – CentroCapacidade: 120 lugaresMúsico: Ednaldo Borba, pianoPrograma: Vilani Côrtes e Brahms

Dia 15- terça-feira.- 12:30hs PAÇO IMPERIAL Praça XV de Novembro, s/no.- Sala dos Archeiros.Capacidade: 130 lugares.Músico: Anam Glas Ensemble - Programa: Música tradicional irlandesa

DIA 16 - quarta-feira – 12:30 MUSEU DA REPÚBLICA Rua do Catete, 153 – CateteCapacidade:80 lugaresMúsico: Luan GóisPrograma: Ravel, Rachmaninov, Mozart, Bach

DIA 17 - quinta-feira – 12:30 MUSEU DA REPÚBLICA Rua do Catete, 153 - CateteCapacidade: 80 lugaresMúsico: Trio Leitmotiv- ( Cláudia Marques , piano, Maristela Araújo, voz e Renato Gonçalves, voz.Programa: Árias de óperas (Mozart, Puccini e Verdi)

DIA 18 - sexta-feira – 15:00 CENTRO CULTURAL JUSTIÇA FEDERAL Av. Rio Branco, 241 – CentroCapacidade: 142 lugares.Músico: João Carlos Assis Brasil, piano.Programa: Villa- Lobos, Victor Assis Brasil, Ernesto Nazareth

DIA 19 - sábado – 11:30PARQUE DAS RUINAS Rua Murtinho Nobre, - Santa TeresaCapacidade: 150 LUGARES. Músico: Angela de Carvalho, voz e Sergio Lavor, piano e voz e Joabe Ferreira, piano e voz.Programa: Árias de ópera ( Puccini, L.Weber, Carlos Gomes e Verdi)

DIA 20 – domingo – 11:30hs MEMORIAL GETULIO VARGAS Praça Luis de Camões s/no. GlóriaCapacidade: 150 lugares.Músico: Nicolas de Souza Barros, alaúde renascentista e vilhuela e Clarice Szajnbrum , soprano e percussãoPrograma: Canções renascentistas inglesas e espanholas: Dowland, Henrique VIII, Purcell, Mudarra e Milan.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Banco de dados sobre Machado de Assis

O banco de dados "Alusões e citações em Machado de Assis", elaborado pela pesquisadora Marta de Senna, já está disponível na internet. É um belo trabalho que vale a pena consultar. O endereço é www.machadodeassis.net

sábado, 5 de janeiro de 2008

Literatura atual: dez passos rumo ao desprestígio

Alcir Pécora, professor livre-docente de Teoria e Crítica Literária e diretor do Instituto de Estudos da Linguagem da Unicamp, em artigo publicado no Caderno 2, do Estado de São Paulo, apresenta dez tendências no campo da literatura atual que o fazem acreditar que o mundo literário esteja perdendo sua representatividade.


1. A proliferação de Flips, Flaps, Flops, Baladas e Copas Literárias, e até Raves Culturais, nas quais a literatura aparentemente se afirma como evento globalizado de massa ou motivo de festa popular, associada a fenômenos alegadamente deleitosos como batuque, botequim, noitada, e, por que não?, celebridades, pois nem elas querem ficar por fora da grande “novidade” da leitura, assim como os novos “leitores” não querem deixar de tirar uma lasquinha ao vivo de seu astro, que digo?, de seu “autor favorito”. Dessa tendência, a pergunta relevante é saber em que medida a imaginação da literatura, trabalhada pelo marketing dito “cultural”, pode contribuir para incrementar o hábito festeiro, pois a questão contrária, isto é, de que modo a festa pode contribuir para a literatura, é apenas uma piada de salão.

2. A afirmação dos concursos literários, agora expandidos até para dentro da universidade, os quais, sob a intenção declarada de promover a literatura e descobrir novos talentos, acabam por premiar o mediano - o que há de mais intolerável em literatura, segundo Horácio -, pois os mais diferentes sistemas de votação, quando não são farsas descaradas em favor de amigos, favorecem os títulos que mais aparecem nas listas, em detrimento daqueles títulos que, por ser de difícil assimilação ou de pouco consenso, e, portanto, com alguma chance de apresentar interesse, jamais obtêm as médias da premiação. Ou seja, um concurso, a não ser por azar, só premia o premiável, que é um outro nome para o medíocre.

3. A implantação definitiva da ciberliteratura, atualmente já escrita com “i” e pronunciada do mesmo jeito, na qual os autores jovens, afetos a computadores e informática, supostamente deram de ombros às recusas de publicação das editoras tradicionais ou às críticas caretas dos velhos críticos e se lançaram de cabeça na internet, sendo lidos pelos seus amigos, pela sua comunidade, e até pela parcela dos velhos críticos desejosos de continuar eternamente jovens. Dentre estes, há duas tendências: a dos que acham que a ciberliteratura é uma nova forma de erudição, pois os “jovens internautas” emulam os grandes autores da literatura brasileira e mundial, e a dos que pensam que a “explosão” das novas linguagens produz um tal frenesi semiótico que nada se pode dizer desses autores, senão estar atônito a admirar a coragem com que montam o cavalo xucro das novas tecnologias.

4. A transferência dos reality shows da TV para os best-sellers das editoras mais aventureiras, que usam seus olheiros para descobrir “testemunhos” de participantes de toda forma de vida secreta, marginal, imoral, cujos relatos despudoradamente crus e confessionais excitam a imaginação dos leitores fugazes da classe média, que tudo o que conhecem de excessivo, por experiência própria, é trabalho e trânsito. Nesta tendência, têm lugar destacado as confissões de prostitutas, de traficantes descolados em sociologia, e, acima de todos, as confissões sexuais de adolescentes perdidas num mundo cheio de confusão e ecstasy. Se o primeiro item desta lista promete que literatura também é festa, este evidencia que ela, potencialmente, é também esbórnia, bandalheira, mundo-cão - infelizmente, desta vez, sem a trilha sonora de Riz Ortolani.

5. A volta da velha noção de “geração”, a qual, depois de ter logrado um bem-sucedido hype na Vila Madalena com a invenção da saudosa “geração 90”, presta-se ainda a um tour de force para requentar o mesmo, seja trocando cada vez mais velozmente os seus algarismos (“00”, “0.5”), seja postulando a geração “entre séculos”, ou até a geração “não-geração”. Tudo para assegurar que haja alguma movimentação literária fora da exigência de inovação inerente ao campo literário, ou para forjar um atalho que submeta a literatura à idade dos seus praticantes, uma vez que parece impossível fazê-lo por meio do nível da sua criação.

6. A multiplicação de livros com testemunhos tocantes em zonas de conflito do mundo globalizado, onde cachorrinhos, livrarias, pipas e outros objetos amigáveis reencontram um hálito de humanidade em situações brutais de guerras. Nesses relatos, os elementos tribais em conflito ganham toques pitorescos e culturais e os paradoxos e contradições dos interesses do capital internacional oferecem rica oportunidade para que os ocidentais céticos ou cínicos redescubram a riqueza e a esperança “pós-humanas” escondidas no mundo primitivo.

7. O uso da literatura como repertório de narrativas edificantes, figuras comoventes e sentenças judiciosas para auxílio da filosofia em situações que demandem a adesão imediata do ouvinte não especializado, como no caso exemplar de programas de TV, onde filósofos sem preconceitos em relação à grande mídia se esforçam para ajudar o cidadão comum a encontrar a luz compreensiva da... cultura.

8. O uso da literatura como repertório de narrativas, figuras e sentenças de impacto para uso de nietzschianos e deleuzianos desbundados, que acham que o que realmente importa, mais do que os estudos de Filosofia e Literatura, é a Vida, ela mesma, cuja logogenia multívoca, pulsando nos devires, é inapreensível por meras disciplinas acadêmicas. Contra o estudo árido e estéril, a Vida latente na literatura da rua, fonte privilegiada de hibridismos culturais, pode prover a filosofia da sensualidade e fluidez do papo-cabeça.

9. No âmbito da crítica universitária, a tendência mais notável, que entra em cena pisando firme sobre a antes obrigatória modéstia afetada, é a autopromoção, que faz de cada pesquisador um microempresário, com um vibrante e crescente repertório de truques: a “autocitação”; os quotation-buddies; a disposição de “formar quadros”, em vez de simplesmente dar aulas; a implantação de “linhas de pesquisa”, em vez do mero estudo da matéria, e, de modo genérico, a inflação do currículo, ou, para os íntimos, a turbinagem do Lattes -, por exemplo, com a organização de livros com artigos de amigos, que ninguém leu, nem quer ler, nem vale a pena ler, sem nenhuma relação entre si a não ser a irrelevância hiperprodutiva. Variante do item é a publicação de livros de homenagens a professores, os quais, mais ou menos constrangidos pelas exéquias precoces, são obrigados a se transferir para o limbo olímpico. Mais constrangidos ficariam se adivinhassem que a motivação derradeira das “homenagens” é o esforço de obter publicações do grupo 1 da Capes, e, por conseguinte, arrancar boas notas para seu programa de pós, o que não deixa de dar certa nota cívica ao oportunismo.

10. Ainda no âmbito da crítica universitária, o dernier cri é dado pela autonomização de um campo de pensamento sobre a literatura que pode se dispensar da literatura, isto é, um campo que se afirma como teoria pura, independente da literatura, assim como da filosofia. Com balizas atribuídas a autores como Benjamin, Adorno, Derrida, Lacan, Lévinas, Habermas, Jameson, Agamben, etc. , o novo campo garante que não há privilégio maior para a literatura do que fornecer modelos de reflexão para a “teoria”. Em conjunto, todos os dez itens, em maior ou menor grau, com mais ou menos euforia, apontam para um mesmo ar do tempo em que se consolida um enorme desprestígio da literatura como campo de pensamento e cultivo, de modo que, para reanimá-la de seu túmulo, é preciso sacudi-la com festas, cortejá-la com prêmios, atualizá-la com computadores, torná-la sexualmente atraente e visualmente apelativa, descobri-la índice de partido jovem, levantá-la como bandeira da paz e amor em meio à guerra, vibrá-la sentenciosa e edificante, eletrizá-la de vitalismo, inflá-la com índices das agências de fomento, e, por fim, embora o desprestígio não dê sinal de ter um fim, ostentá-la como exemplo de repertório empírico à disposição de uma metalinguagem que lhe é vastamente superior. Tudo somado, fica bem claro que literatura, hoje, vive aquilo que os americanos chamam de “downhill”, e nós, em tradução grosseira, de descida da rampa. Caso o diagnóstico pareça demasiado duro a espíritos sensíveis e esperançosos, o desprestígio sempre poderá ser traduzido por superprestígio, à maneira dialética da bossa nacional.


Não sei por que fico sempre com a impressão que apontar tendências é sempre mais simples que sugerir "solucências".

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Volta ao trabalho!!!

Depois da ressaca de final de ano, fui flagrada pela Rachel na volta ao batente.
Esperança e fôlego. É isso que todos nós precisamos neste início de ano.