quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Presidente americano negro! Lobato profeta? 2008 ou 2228?



Fiquei particularmente feliz e esperançosa com a vitória do Barack Obama. A primeira coisa que lembrei foi do texto de Monteiro Lobato O Choque das Raças ou O Presidente Negro. Para quem não conhece, é o título de uma novela de ficção científica de Monteiro Lobato, publicada em 1926, em folhetins no jornal carioca A Manhã e que tinha o subtítulo “romance americano do ano 2228".

"A história é narrada por Ayrton, funcionário da firma paulista Sá, Pato & Cia., que depois de um acidente de carro, é iniciado na revelação do futuro por Jane, filha do professor Benson, cuja invenção - o porviroscópio - lhe permite devassar o futuro. Jane, numa série de sessões domingueiras, revela ao espantado mas entusiasta Ayrton os episódios que envolvem a eleição do 88.° presidente norte-americano. Três candidatos disputam os votos: o negro Jim Roy, a feminista Evelyn Astor e o presidente Kerlog, candidato à reeleição. A cisão da sociedade branca em partido masculino e feminino possibilita a eleição do candidato negro. Perante o fato consumado, a raça branca engendra uma típica “solução final”: a esterilização dos indivíduos de raça negra, camuflada num processo de alisamento de cabelos.Paralelamente a esta narração, o romance focaliza o amor de Ayrton por Jane, e a missão literária do moço: escrever um romance daquilo que lhe narrava".

Essa maneira de Lobato armar a trama criando um primeiro presidente negro da história dos E.U.A que descobre que o mesmo processo de alisamento de cabelos que ele faz e que também patrocina para seus colegas, esteriliza as pessoas, é bem complicada. Exageros ficcionais lobatianos à parte, o livro fica muito curioso neste momento de eleições presidenciais nos EUA e diante da reviravolta mundial que estamos vivendo.

Na história de O Presidente Negro, de um lado, estão os milhões de eleitores negros, que apóiam Jim Roy, da Associação Negra. De outro, as mulheres brancas que seguem a candidata do Partido Feminino, miss Evelyn Astor. E, por fim, há os homens brancos, que preferem a reeleição de Kerlog pelo Partido Masculino, que fundiu o Democrata e o Republicano.É um choque de raças e uma guerra de sexos. "E os homens brancos, a fim de embranquecer os EUA, pregam enviar os negros para a Amazônia, que já não é parte do Brasil."

No livro, curiosamente Lobato fala que a imprensa de papel deixa de existir nos EUA, em 2228 e "as notícias são “radiadas” e aparecem imediatamente impressas “em caracteres luminosos num quadro mural existente em todas as casas”. É por essa época também, conforme o escritor, que as pessoas que lidam com rotinas burocráticas ou de natureza intelectual trabalham em suas próprias residências, de onde transmitem seus serviços ao escritório utilizando a “rádio-transporte”. Disse isso em 1926.

Não é mais ou menos isso que estou fazendo agora aqui neste blog?
Posto e aconselho a leitura do excelente artigo A figura do negro em Monteiro Lobato, da sempre lúcida amiga Marisa Lajolo.