sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Dois olhos e uma boca

Estou acompanhando a bela e comovente minissérie que traz a oportunidade de repensar Maysa. Aqui, um poema de Bandeira para ela e um vídeo que permite rever a sua intensidade dramática cantando Ne me quittes pas. Já postei anteriormente no blog (01/11/08) a interpretação do criador, Jacques Brel, e de Patricia Kaas & Maurane em homenagem a ele.
MAYSA

Um dia pensei um poema para Maysa
“Maysa não é isso
Maysa não é aquilo
Como é então que Maysa me comove me sacode me buleversa me hipnotiza?

Muito simplesmente
Maysa não é isso mas Maysa tem aquilo
Maysa não é aquilo mas Maysa tem isto
Os olhos de Maysa são dois não sei quê dois não sei como diga dois Oceanos Não-Pacíficos

A boca de Maysa é isto isso e aquilo
Quem fala mais em Maysa a boca ou os olhos?
Os olhos e a boca de Maysa se entendem os olhos dizem uma coisa e a boca de Maysa se condói se contrai se contorce como a ostra viva em que se pingou uma gota de limão
A boca de Maysa escanteia e os olhos de Maysa ficam sérios
meu Deus como os olhos de Maysa podem ser sérios e como a boca de Maysa pode ser amarga!
Boca da noite (mas de repente alvorece num sorriso infantil inefável)”

Cacei imagens delirantes
Maysa podia não gostar
Cassei o poema.

Maysa reapareceu depois de longa ausência
Maysa emagreceu
Está melhor assim?

Nem melhor nem pior
Maysa não é um corpo
Maysa são dois olhos e uma boca
Essa é a Maysa da televisão
A Maysa que canta
A outra eu não conheço não
Não conheço de todo
Mas mando um beijo para ela.

Manuel Bandeira in “Estrela da Vida Inteira”, 3ª edição, Livraria José Olympio Editora, 1973.