Reproduzo o texto da Míriam Leitão.
O ajuste já era esperado, mas não alguns dos cortes anunciados. O governo tinha superestimado o crescimento da economia. Com base neste crescimento fictício, previu um aumento da receita. Agora está cortando esse vento que não virá. O governo cortou investimento. Bloqueou 30% do total no chamado corte preventivo. O que ficou foram as obras do PAC, que fazem parte da propaganda do governo.
Mas o mais preocupante é que ao cortar, o Executivo escolheu áreas erradas. Reduziu a verba para ciência e tecnologia, setor onde o mundo hoje tem aumentado o investimento, exatamente como uma das armas para sair da crise, com inovação. Cortou 79% o orçamento do ministério do Meio Ambiente que já vive com pouco.
Apesar disso manteve os concursos, as contratações de mais funcionários, a existência do número extravagante de ministérios, 37. Ou seja, o governo errou quando previu um crescimento da receita em ano de crise, e erra agora na escolha de onde cortar.
As previsões sobre o desempenho das economias mais ricas têm sido revistas sempre para baixo nos últimos tempos. Agora se fala em queda de 2% na economia americana este ano, 4% no Japão, e de 2% a 3% na Europa. É uma devastação.
Hoje ninguém mais acredita que os emergentes salvarão o mundo. O Brasil está crescendo menos, a China está em forte desaceleração e se crescer 6% vai significar um enorme freio para quem vinha a 13%. Rússia está em crise e Índia está crescendo menos. Os dados são péssimos.
Mas o que o fórum de sábios econômicos, que se reúne todos os anos no mesmo lugar onde foi ambientado o famoso romance “Montanha Mágica”, de Thomas Mann, precisa explicar é a mágica que impediu que eles ouvissem os alertas de quem previu esta crise há dois anos. Naquela época eles riram de quem avisou que haveria uma grande recessão.
O presidente Lula estimula o consumo. Mas o governo anunciou uma medida que pode elevar preços e provocou chiadeira entre os empresários. Chama-se licença prévia de importação.
O governo tomou uma decisão absurda ao exigir essa licença de importação de três mil produtos. É quase 60% do que o Brasil importa. Ontem, empresários foram até Brasília mostrar o erro da medida. Quem produz para o mercado interno também importa. Quem exporta também precisa de produtos importados. Isso pode afetar toda a produção brasileira. Em um momento como esse, isso pode gerar inflação.
Ontem, o presidente da Associação da Indústria Automobilística (Anfavea) desabafou: era só o que faltava, neste momento, ter mais uma dificuldade de produção. O vice-presidente da Associação dos Exportadores Brasileiros, José Augusto de Castro, disse que é uma volta aos anos 1970 e 1980, a época da reserva de mercado.
Detalhe: o Brasil pode sofrer represália dos parceiros porque este tipo de barreira protecionista pode ser imposta contra o Brasil também. O governo está fazendo isso porque está assustado com o déficit comercial de janeiro - que já passou de US$ 800 milhões. Mas o tiro pode sair pela culatra.