terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Mulheres fantásticas: Adélia Prado

Pretendo trazer para o blog, toda semana, a arte de mulheres fantásticas em todos os campos da criação. Começo pela delicadeza poética de Adélia Prado, num diálogo intertextual com um outro mineiro que igualmente habita meu carinho.

Com licença poética
Quando nasci um anjo esbelto,
desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira.
Cargo muito pesado pra mulher,
esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
sem precisar mentir.
Não sou feia que não possa casar,
acho o Rio de Janeiro uma beleza e
ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina.
inauguro linhagens, fundo reinos
_ dor não é amargura.
Minha tristeza não tem pedigree,
já a minha vontade de alegria,
sua raiz vai ao meu mil avô.
Vai ser coxo na vida é maldição pra homem.
Mulher é desdobrável. Eu sou.